segunda-feira, 26 de março de 2012

Como você pode fiscalizar o uso de verbas públicas

Guia prático orienta público em geral a fiscalizar uso de verbas públicas
22/03/2012
 

Iniciativa da PRR-3 e da PRE-SP indica mecanismos de pesquisa disponíveis aos cidadãos na internet



A Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR-3) e a Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo (PRE-SP) lançaram a cartilha "Fiscalização de Transferências de Verbas Públicas". O guia, destinado especialmente ao público externo, traz mecanismos de pesquisa acessíveis ao público em geral para apuração de gastos e transferências de verbas públicas.

O objetivo da cartilha é incentivar que os cidadãos tenham instrumentos para exercer um maior controle social das verbas públicas, conhecendo formas de fiscalizá-las. Com a internet, tem sido cada vez maior a quantidade de informações disponíveis referentes a gastos públicos, como é o caso do Portal Transparência, do Governo Federal.

A cartilha foi elaborada a partir da experiência adquirida pela Assessoria de Análise e Pesquisa (ASSPA) da PRR-3 no uso desses mecanismos. Ela traz ainda, além dos serviços disponíveis na internet, outros meios para obtenção de informações (como, por exemplo, onde obter endereços e telefones de diversos órgãos responsáveis pela investigação ou fiscalização dos gastos públicos, nos níveis federal, estadual e municipal).

O guia está disponível online na página da PRR-3. Clique aqui para acessá-la:

Assessoria de Comunicação Social
Procuradoria Regional da República da 3ª Região
Fones: (11) 2192 8620/8766 e (11) 91673346
ascom@prr3.mpf.gov.br
www.prr3.mpf.gov.br
twitter: @mpf_prr3

quarta-feira, 21 de março de 2012

Agenda: Programe-se! Audiências públicas em São Paulo e Brasília

Ainda nesta semana, audiências públicas importantes sobre a reforma do Código Penal e sobre cotas eleitorais para as eleições 2012 serão realizadas em São Paulo e Brasília. Veja abaixo quais são e, se puder, participe. Exerça plenamente sua cidadania!


23 DE MARÇO:
Cidade: Brasília/DF
Local: TST - Tribunal Superior do Trabalho, Sala das Sessões Plenárias - Bloco B, Térreo - Setor da Administração Federal Sul  Qd 08 Lote 01.
Horário: a partir das 9h.
Objeto: Audiência pública da Comissão do Senado Federal para reforma do Código Penal - Tema: Crimes contra a Administração Pública
http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2012/03/09/juristas-debatem-crimes-contra-a-administracao-publica-no-dia-23


23 DE MARÇO:
Cidade: São Paulo/SP
Local: Auditório da Procuradoria Regional da República da 3ª Região - Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 2.020, São Paulo
Horário:das 10h às 13h
Objeto: Audiência Pública sobre implementação das cotas por sexo nas candidaturas para as eleições 2012
http://www.presp.mpf.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=612:01032012-audiencia-publica-sobre-implementacao-das-cotas-por-sexo-nas-candidaturas-para-as-eleicoes-2012-&catid=1:notas&Itemid=130 


22 E 23 DE MARÇO:
Cidade: Brasília/DF
Local: Plenário 3 do Anexo II da Câmara dos Deputados
Horário: das 9h às 18h.
Objeto: Reunião da Subcomissão Especial de Crimes e Penas (reforma do Código Penal) da CCJ da Câmara. 
http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/411337-RELATORIO-FINAL-SOBRE-CRIMES-E-PENAS-DEVE-SER-APRESENTADO-ATE-DIA-31.html 

terça-feira, 20 de março de 2012

A impunidade dos corruptos

No último final de semana, tive a honra de participar do II Congresso contra a Corrupção, na Câmara de Vereadores de São Paulo, promovido pela sociedade civil e pelo Movimento NasRuas.

No painel do qual fiz parte, em companhia dos juristas Professores Marcelo Nerling, Thais Cavalcante e Jean Menezes, do cientista político Joel Formiga e do jornalista Milton Jung, discutimos sobre foro privilegiado e imunidade parlamentar. Outros painéis se realizaram ao longo do dia. Muito se falou sobre corrupção, impunidade, necessidade de uma maior consciência da sociedade e de um maior engajamento da população para exercer seu direito de fiscalizar quanto e como o dinheiro público é gasto.

No dia seguinte, 18/3, o Fantástico mostrou uma devastadora reportagem dos excelentes Eduardo Faustini e André Azevedo, escancarando como está entranhada a corrupção nos esquemas de licitação na área da saúde no Rio de Janeiro.

O video gerou grande revolta e indignação na população e doeu fundo no peito de juizes, membros do Ministério Público, policiais, fiscais, servidores públicos e também do cidadão honesto, que paga seus impostos e tem o direito de ter a devida contrapartida do Estado.

O artigo que transcrevo abaixo é o desabafo de Fernando Zaupa, um jovem Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul, titular do blog "Considerando Bem...".

E aqui você assiste a reportagem.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/03/fantastico-mostra-como-e-desvio-de-dinheiro-em-um-hospital-publico.html

O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro já estava investigando algumas das empresas envolvidas e a Polícia Federal declarou que abriu quatro inquéritos policiais para apurar os fatos. O Ministério da Saúde suspendeu os contratos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) que ainda estejam em vigor com as empresas suspeitas de cometer fraudes em processos licitatórios.

Esses são os ratos que permeiam a administração pública nesse país, dentro do que eles chamam de "ética do mercado", como disse uma das participantes do vergonhoso esquema de corrupção.

CORRUPTOS: POR QUE TANTA OMISSÃO COM ELES??

As imagens mostradas ontem, no programa Fantástico, da Rede Globo estão estampadas em diversos meios de comunicação, redes sociais, conversas em locais de trabalho, praças e, claro, nos meios políticos.
NOVAMENTE, trata-se de flagrante de esquema de corrupção!
NOVAMENTE, a corrupção está a envolver particulares e poder público!
NOVAMENTE, a falcatrua recai sobre a área da saúde!
O que me causa asco, mais que ver a cara (rosto não, cara!) desses safados e seus cinismos e risadas escancaradas, à custa da miséria e morte de milhares de pessoas, que sofrem com um sistema de saúde notoriamente deplorável, é ver que isso se repete na maioria dos mais de cinco mil municípios do país e, mais enojador, ver que os que deveriam mudar isso tudo, nada fazem!
Sim, é isso mesmo!
Em minha tese de pós-graduação (com o título “Direito a Medicamentos e Atendimento Médico na Constituição Federal”), apresentada em 2005, já mencionava que ao invés do Estado ficar alegando a tal ‘reserva do possível’, para não cumprir direitos fundamentais (como a saúde digna – CF, art. 1º, III c.c. art. 5º c.c. art. 6º e art. 196), deveria obedecer ao princípio da eficiência (CF, art. 37), com aplicação de técnicas de gestão (ante as diversas malversações, má aquisição e dispersão de produtos e serviços, etc) e, principalmente, prevenção e repressão à corrupção (justamente o tal desvio dos recursos do sistema de saúde!).
Essa de flagrar corrupção e escancarar a imagem dos bandidos e, em seguida, virar processo que segue arcaico, burocrático e kafkiano trâmite, para levar anos para dizer que o safado, que estava rindo da minha, da sua, da nossa moral, realmente ‘infringiu a lei’, não dará nada!
O bandido terá inúmeros recursos à sua disposição e, segundo nossa Constituição, ainda não poderemos chamar o safado de criminoso, já que ‘não é considerado culpado até trânsito em julgado’!!!
Sim, o safado, flagrado rindo, metendo a mão na grana do seu pesado imposto, deixando pessoas a sofrerem e a MORREREM nas filas da FALTA de atendimento médico, não poderá ser chamado de CULPADO, porque ‘não transitaram todos os recursos cabíveis e imagináveis’!!!
E ao chegar na última esfera de recurso, o Supremo Tribunal Federal, ocorrerá a tal da prescrição que, num português bem claro (e não eufemista dos pretórios), é quando passa muito tempo e a lei, feita pelos deputados e senadores (com parecer de juristas com essa tendência..ops..visão), diz que já não se pune mais!
Por quê?
Os livretos de direito dizem que ‘porque o Estado perde interesse em punir’; você, caro cidadão, que deveria representar o interesse do Estado, realmente não têm mais interesse que bandidos, como os da Máfia dos Sanguessugas, Mensalão e outros tantos, sejam punidos?
Pois é!
O que fazem é criar um absurdo legal e jurídico para que NO BRASIL A CORRUPÇÃO VALHA A PENA!!
A culpa é geral: de quem não investiga! De quem não processa! De quem não agiliza o processo! De quem é conivente com entendimentos a favor do bandido! De quem faz essas leis! De quem critica, mas é o primeiro a comparecer nas festas, casas e aceita emprego desses safados! De quem vota neles!
Vejo tanta ‘meta’ pra baixar número de processos de homicídio, ‘meta’ pra baixar processos iniciados antes de tal ano... por que não há meta pra findar processos de improbidade?????

Vejo varas especializadas em família, infância, homicídio, câmaras para julgar crimes, câmaras para julgar assuntos cíveis.... por que não para julgar CORRUPÇÃO, se está a aniquilar esse país e a todos os bens jurídicos tutelados??????
Vejo projeto de lei para Saci virar patrimônio cultural, vejo lei para adolescente infrator poder ter sexo na cadeia, vejo lei para tanta...enfim.. por que não há lei colocando de forma severa crimes de CORRUPÇÃO e acabando com a burocracia do processamento???
Vejo decisões a usar doutrinas alemãs para soltar bandidos, vejo decisões citarem julgados italianos para diminuir penas de criminosos, por que não usam a realidade brasileira em vez da de outras paragens, para ajustarem a realidade e lembrarem que aqui a tal ressocialização é balela, ainda mais de pessoas que vivem muito bem, em ótimos apartamentos, belos cargos, carros novos, salários consideráveis, vida MUITO BEM SOCIÁVEL...como costumam ser a vida desses CORRUPTOS???
Ah, valha! É muita omissão!
(* respira!)
Enfim, começamos a segunda-feira!
Bom, por meus valores, pelas pessoas honestas e boas que conheço, por aquelas que acredito que ainda existam, e por dever da escolha funcional que sempre sonhei, farei minha parte... até que um imbecil, safado, ignorante ou mesmo um derrotado já cansado de tanto levar porrada do sistema, na cadeia de falcatruas (criação de leis, criação de situações, indicações, cobranças, investigações, processos, julgamentos, etc) quebre o serviço e crie condições para novas filmagens, em novos Fantásticos, com velhas formas abjetas de agir!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Ministério Público Federal e os crimes da ditadura

O Ministério Público Federal, por meio da sua 2ª Câmara de Coordenação e Revisão (matéria criminal e controle externo da atividade policial), criou um Grupo de Trabalho denominado JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO, com a finalidade de buscar a persecução penal dos crimes cometidos durante o regime de exceção vigente entre 1964 e 1985.

O Grupo foi criado em 9 de novembro de 2011 e tem a seguinte composição (Portaria 2ª CCR nº 21 de 9 de novembro de 2011. Publicada no Boletim de Serviço/MPF nº 22 da 2ª quinzena de novembro de 2011):

  •  Dr. Ivan Cláudio Marx – PRM Uruguaiana/RS - Coordenador;
  • Dr. Sérgio Gardenghi Suiama – PR/SP - Coordenador substituto;
  • Dr. Andrey Borges de Mendonça – PR/SP;
  • Dra. Inês Virgínia Prado Soares – PR/SP
  • Dra. Lívia Nascimento Tinôco – PR/SE
  • Dr. Marcelo da Mota – PR/SC;
  • Dr. Marlon Alberto Weichert – PRR3ª/SP;
  • Dr. Tiago Modesto Rabelo – PRM Marabá/PA;
Abaixo, seguem algumas notícias relacionadas. Em breve serão ajuizadas as primeiras denúncias.


12 de março de 2012
O Estado de S. Paulo | Nacional | BR

Investigação de procuradores reabre debate sobre revisão da Lei da Anistia




Polêmica. Dilma e seus ministros participam da cerimônia de sanção do Projeto de Lei que cria a Comissão da Verdade.


Anos de chumbo. Iniciativa do Ministério Público de apurar crimes cometidos por militares na ditadura, revelada pelo 'Estado', motiva grupos ligados aos direitos humanos a pressionar STF, mas ministros da corte e OAB avaliam que alteração é pouco provável As iniciativas de procuradores do Ministério Público Federal (MPF), que estão prestes a ajuizar ações contra agentes do Estado acusados de envolvimento com crimes permanentes ocorridos durante a ditadura, conforme informou ontem o Estado, estão provocando novos debates em torno da Lei da Anistia, de 1979.
Enquanto setores do MPF, militantes de direitos humanos e políticos de esquerda defendem a existência de brechas na lei que poderiam levar à condenação de civis e militares, do outro lado porta-vozes dos militares e especialistas em questões jurídicas consideram o debate encerrado desde 2010 - ano em que o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que a lei beneficiou tanto perseguidos quanto perseguidores no regime militar.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, disse ontem que vê com "simpatia" a ação dos procuradores da República que desejam processar os agentes públicos envolvidos em casos de sequestro e ocultação de cadáver, considerados crimes permanentes. Mas ele considera pouco provável, porém, que a tese prospere por causa da decisão do Supremo.
"Se o Supremo não rever sua decisão, me parece que a tese não vai vingar", afirmou o presidente da OAB.
Sob coordenação do Grupo de Trabalho Justiça de Transição, da 2.ª Câmara Criminal do MPF, em diversas partes do País procuradores investigam casos de sequestro e ocultação de cadáver ocorridos na ditadura. Trabalham com a premissa de que tais crimes, considerados permanentes, não foram abrangidos pela Lei, que cobre de 1961 a 1979.
Para o coordenador do grupo, Ivan Claudio Marx, legalmente esses crimes continuam sendo perpetrados enquanto não se esclarece o que aconteceu.
Militares da ativa e da reserva ouvidos pelo Estado a respeito das ações do MPF consideraram o debate estéril. Para eles, o acordo de perdão foi aprovado pelo Congresso em 1979 e confirmado pelo STF há quase dois anos.
Área cível. Outra linha de trabalho percorrida pelo MPF é a investigação de crimes na área cível. Na avaliação de alguns juristas, as possibilidades nesse campo são maiores que na área criminal. Um deles é o professor de direito constitucional Pedro Estavam Serrano, da PUC-SP. "A Lei da Anistia tratou só de questões criminais", observou.
Na avaliação dele, os procuradores podem mover ações contra policiais e militares cujos procedimentos resultaram na condenação do Estado, em casos de morte e tortura. "A Constituição é clara quando diz que, em caso de dolo ou culpa, o servidor tem que indenizar o Estado. Ora, se a Comissão da Verdade apontar um agente de Estado como responsável pela tortura de um cidadão, com a consequente indenização paga pelo erário público, é obrigação do Ministério Público mover ações para recuperar aquilo que foi pago. Isso ocorre normalmente quando um funcionário é responsável por um acidente com danos ao patrimônio público." Esse tipo de crime, lembra o professor, é imprescritível. "Basta ler a Constituição e começar a mover as ações", diz ele.
No STF, os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux também vem sustentando a ideia de que o assunto está encerrado. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que participou do debate da Lei da Anistia, quando exercia mandato pelo MDB, tem outra avaliação. "Os casos de desaparecidos políticos não estão prescritos", disse ontem. Ele disse que, no debate de 2010, o ministro Ricardo Lewandowski citou vários delitos que não estariam incluídos, entre eles os de sequestro e ocultação de cadáver. / ROLDÃO ARRUDA, DENISE MADUEÑO E RICARDO BRITO
------------------------
Para Lembrar
Militares contestam ação
Militares da ativa e da reserva, informados da iniciativa do Ministério Público, contestaram ideia e afirmaram que consideram o assunto encerrado com a decisão do Supremo Tribunal Federal.
"O acordo de perdão foi aprovado pelo Congresso e selado pelo STF", sustentou antoentem o general de Exército da reserva Luiz Cesário da Silveira Filho. "É mais uma tentativa de ganhar notoriedade e tumultuar o processo".
"Apenas os renitentes ideológicos alimentam essa polêmica", acrescentou o general Maynard Marques de Santa Rosa. Outro general, Augusto Heleno, perguntou, pelo Twitter: "O MPF pode ignorar decisão do STF para atender à Corte Interamericana de Direitos Humanos?"
> Lados opostos
PEDRO E. SERRANO, PROFESSOR DA PUC-SP
"É evidente que, do ponto de vista jurídico, os crimes de sequestro e ocultação de cadáver são permanentes e o MP está certo ao procurar ajuizar ações"
AUGUSTO HELENO, GENERAL DA RESERVA
"No sistema jurídico brasileiro, o MPF pode ignorar decisão do STF para atender à Corte Interamericana de Direitos Humanos?"
 http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,investigacao-de-procuradores-reabre-debate-sobre-revisao-da-lei-da-anistia,847107,0.htm


Ministério Público prepara ações contra militares por crimes da ditadura

Tese de procuradores ignora a Lei da Anistia para os chamados casos de ‘desaparecimento político’ por entender que eles não prescreveram; militares contestam

Roldão Arruda
O Ministério Público Federal está intensificando esforços para a instalação de processos que levem à responsabilização de pessoas envolvidas com os chamados crimes permanentes - sequestro e ocultação de cadáver - praticados por agentes do Estado nos anos da ditadura militar. Em São Paulo, procuradores federais estão prestes a ajuizar as primeiras ações nesses casos, mais conhecidos como "desaparecimentos". Eles defendem a ideia de que os possíveis autores de crimes permanentes não foram abrangidos pela Lei da Anistia, que cobre um período limitado de tempo, entre 1961 e 1979.
Iniciativa de procuradores surge em momento de embate entre Dilma e militares - Wilson Pedrosa/AE
Wilson Pedrosa/AE
Iniciativa de procuradores surge em momento de embate entre Dilma e militares


Ouvidos pelo Estado, militares da ativa e da reserva contestam a iniciativa e enxergam uma tentativa de desestabilizar a democracia (leia texto abaixo).
Na sexta-feira à tarde, no edifício da Procuradoria da República, na Rua Frei Caneca, região central da capital paulista, foram ouvidos novos testemunhos no caso Edgard de Aquino Duarte, um dos nomes que integram a lista de 156 casos de desaparecimento forçado ocorridos na ditadura. Foi a segunda audiência realizada no ano para tratar desse caso.
De acordo com testemunhas que estiveram presas na mesma época, Duarte foi visto pela última vez numa cela da antiga carceragem do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no bairro da Luz, em junho de 1973.
De maneira discreta, sem declarações públicas, os procuradores federais em São Paulo concentram as atenções em quatro casos. O segundo nome da lista, abaixo de Duarte, é o de Aluízio Palhano Ferreira, que desapareceu em 1971, em São Paulo, após ter sido detido por agentes do Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna, organização militar que se tornou mais conhecida pela sigla DOI-Codi.
O objetivo é reunir o máximo de provas para ajuizar ações contra os eventuais responsáveis pelos crimes. O trabalho focaliza essencialmente sequestro e ocultamento de cadáver, que são crimes permanentes. Quando se fala, por exemplo, em homicídio, existe a possibilidade de se alegar prescrição da pena.
Embora estejam à frente, os procuradores em São Paulo não são os únicos empenhados na abertura de processos contra agentes envolvidos com desaparecimento forçado de opositores da ditadura. Sob a coordenação do Grupo de Trabalho Justiça de Transição, da 2.ª Câmara Criminal, em Brasília, representantes do Ministério Público Federal trabalham com o mesmo foco em várias regiões do País.
 http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministerio-publico-prepara-acoes-contra-militares-por-crimes-da-ditadura,846770,0.htm


Tese de procuradores ignora a Lei da Anistia para os chamados casos de ‘desaparecimento político’ por entender que eles não prescreveram; militares contestam

Roldão Arruda
Debate jurídico
Até agora nenhuma ação foi ajuizada, mas, segundo o coordenador do grupo, procurador Ivan Claudio Marx, de Uruguaiana (RS), isso está prestes a ocorrer. Ele também observa que os esforços nessa direção começaram em 2008.
"O raciocínio com o qual trabalhamos, aceito pela maior parte dos países que viveram situações semelhantes, é de que o crime de sequestro e ocultação de cadáver, agravado por maus tratos, é um crime permanente", explica o procurador. "Isso significa que continua sendo perpetrado enquanto a pessoa não é localizada, enquanto não se esclarece o que aconteceu. Como se trata de um crime que ainda não se consumou, ele não pode ser abrangido pela Lei da Anistia de 1979. Ela não se aplica a atos posteriores àquela data."
A discrição e o alto nível de atenção com que os procuradores tratam os casos se devem à polêmica jurídica que envolve o tema e ao receio de que as denúncias não sejam aceitas pelos juízes. Paira sobre o debate a sombra do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em 2010, definiu que a Lei da Anistia beneficiou também os agentes de Estado.
O procurador que coordena o Grupo Justiça de Transição pode citar de cabeça trechos daquela decisão. Mas também observa que o STF já deu mais de um sinal de que os casos de crimes permanentes devem ser tratados de forma diferenciada. Ele cita como exemplo o fato de o Supremo ter aceito, em 2009, o pedido de extradição do coronel reformado uruguaio Manuel Cordeiro.
Acusado pelo desaparecimento de dez pessoas e o sequestro de um bebê, além de envolvimento com torturas, no ano de 1976, Cordeiro viveu clandestinamente em Santana do Livramento (RS) até 2009 - quando foi localizado por organizações de defesa dos direitos humanos. No debate sobre sua extradição, solicitada pela Argentina, a defesa alegou que os crimes haviam sido prescritos e citou a anistia.
"Mas o STF decidiu pela extradição, por entender que o sequestro é um crime permanente", diz Marx. "O mesmo critério foi utilizado em 2010 no debate sobre a extradição de outro militar, dessa vez argentino."
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministerio-publico-prepara-acoes-contra-militares-por-crimes-da-ditadura,846770,0.htm?p=2 


A estudiosa Glenda Mezarobba, doutorada em política pela USP e especialista em justiça de transição, observa que o conceito de crime permanente é aceito em países vizinhos que também enfrentaram ditaduras. Um dos primeiros a adotá-lo na região foi a Argentina. "Com o passar do tempo, parte do judiciário chileno também tratou de considerar como sequestro permanente vários desaparecimentos ocorridos no período contemplado pela anistia no país, de 1973 a 1978".
Ainda segunda a pesquisadora, no cerne da questão está o argumento de que a anistia não se aplica a casos em que se desconhece a data do fim do crime.
Inquietação
A movimentação do Ministério Público mobiliza atenções tanto no meio dos militares quanto entre familiares de mortos e desaparecidos. Na avaliação do advogado Aton Fon Filho, que atua na área de direitos humanos, trata-se de um debate diferente daquele que existe em torno da Comissão da Verdade.
"O desafio da comissão é sobretudo político, de exposição do que ocorreu na ditadura. No caso do Ministério Público o foco é criminal", observa.
Para o ex-preso político Ivan Seixas, que conviveu com Edgard Duarte na prisão e foi chamado a depor na sexta-feira, em São Paulo, a estratégia dos procuradores tem melhores chances de levar à responsabilização dos agentes de Estado do que tentativas anteriores.
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministerio-publico-prepara-acoes-contra-militares-por-crimes-da-ditadura,846770,0.htm?p=3

Trabalho do MPF deve auxiliar atuação da Comissão da Verdade




Sinergia. Diogo prevê ligação entre o MPF e a comissão

Investigações abertas pelos procuradores ocorrem no momento em que Legislativo de SP também analisa período



 O debate provocado pela intensificação das ações do MPF, para responsabilizar agentes do Estados envolvidos com crimes permanentes, também atinge a Comissão da Verdade, aprovada no ano passado pelo Congresso.
Embora representantes do governo sustentem a premissa de seu caráter histórico, de reconciliação e esclarecimento de fatos ocorridos no regime militar, setores mais próximos de familiares de mortos e desaparecidos sustentam que ela pode funcionar como um braço auxiliar das autoridades na área judicial.
Em São Paulo, o presidente da Comissão Estadual da Verdade, deputado Adriano Diogo, disse que pode haver sinergia entre membros das comissões e procuradores. "O objetivo da comissão estadual, assim como a nacional, é reunir o máximo de documentos e provas, como apoio das famílias de perseguidos político", observou. "Esse material pode ser utilizado pelos procuradores ." O professor de direito constitucional Pedro Estevam Serrano, da PUC-SP, também vê possibilidades de sinergia.
"Se a comissão apontar casos em que o agente público provocou danos ao Estado, é dever do procurador mover ações", afirmou.
Dúvidas. Para onde quer que se apontem os indicadores na questão da anistia existem polêmicas.
Apesar de ministros do STF defenderem que não há espaço para punir militares que cometeram crimes considerados permanentes durante a ditadura, dois julgamentos promovidos pela Corte, em 2009 e 2011, deixam dúvidas sobre a questão.
Em dois processos de extradição, o STF confirmou o entendimento de que são crimes permanentes os sequestros praticados durante a ditadura Argentina, cujas vítimas até hoje não apareceram- vivas ou mortas. Esse é o argumento do MPF.
Em 2009, o STF autorizou a extradição do major uruguaio Manuel Juan Cordeiro Piacentini para a Argentina. O militar é acusado de ter participado da Operação Condor, arquitetada nos anos 70 para reprimir a oposição a regimes militares da América do Sul.
Os advogados de Piacentini argumentavam que as vítimas foram mortas. Os crimes, portanto, estavam prescritos. A tese foi rejeitada.
Primeiro ministro a votar pela extradição, o ministro Ricardo Lewandowski julgou que o sequestro tem caráter permanente até que a vítima seja entregue.
Atese acabou sendo confirmada pelo plenário.
No ano passado, nova extradição foi concedida. O plenário voltou a rejeitar a tese de prescrição de crimes, ao julgar o caso do major argentino Norberto Raul Tozzo, envolvido na tortura e morte de 22 presos políticos, em seu país, em 1976, no episódio conhecido como Massacre de Margarita Belén. / FELIPE RECONDO E ROLDÃO ARRUDA



12 de março de 2012
MPF | O Estado de S. Paulo | Nacional | BR

"É uma página virada", sustentaram ministros




Origem. Mendes: ‘Modelo fez parte do processo constituinte’

Felipe Recondo/ BRASÍLIA



 Dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sustentaram, em entrevistas recentes ao Estado, que a definição sobre a Leia da Anistia, em 2010, encerrou a possibilidade de punir militares que cometeram crimes durante a ditadura. Um deles, Luiz Fux, afirmou que a Lei "foi uma virada de página". Para Gilmar Mendes, o modelo de anistia estabelecido pelo Brasil e julgado pelo STF faz parte do processo constituinte.
Eles não trataram especificamente do MPF, mas indicaram que as teses dos procuradores devem encontrar resistências no Supremo. Os agentes do Ministério Público entendem que os chamados desaparecimentos forçados - com sequestro e ocultação de cadáver - ocorridos na ditadura militar e até hoje não esclarecidos devem ser tratados como crimes permanentes.
A decisão do STF já esgotou a questão, resumiu Fux. "A mim me parece que o Supremo deu um equacionamento adequado no debate ao dizer que esse modelo de anistia fez parte do processo constituinte", disse Gilmar Mendes. E acrescentou: "A emenda que convoca o processo constituinte e que dá legitimidade à Constituiçãode1988 estabeleceu esse modelo de anistia." Apesar desse entendimento, partilhado por outros ministros, o STF voltará ao debate da questão.
Isso ocorrerá no julgamento de um embargo de declaração apresentado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) relacionado à decisão anterior.
O presidente da entidade, Ophir Cavalcante, questiona desta vez o entendimento de que, pela lei, estariam prescritos todos os crimes cometidos por agentes do Estado.
O acórdão do julgamento teria, de acordo com a OAB, firmado que "eventual persecução criminal está fadada ao insucesso em decorrência da aplicação da prescrição". A tentativa de processar agentes seria estéril por conta disso.
No embargo, a OAB se alinha como MPF, ao argumentar: "Inexistindo data da morte, não há incidência do fenômeno prescritivo." O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deu parecer contrário, por entender que não houve contradições no julgamento.O relator, Luiz Fux, deve analisar o caso em breve.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Desvios de verbas públicas por Prefeitos

 O Fantástico de 4/3/2012 levou ao ar matéria especial de Camila Bonfim sobre desvios de verbas públicas por Prefeitos Municipais. Veja o vídeo e leia a transcrição da reportagem, abaixo:





"Um prefeito construía uma pista de pouso exclusiva para o amigo fazendeiro. Outro queria agradar a amiga e teria mandado reformar a casa dela. E há aquele que pintou a cidade inteira com as cores da campanha dele. E tudo isso foi feito com dinheiro público.

Até onde pode chegar a ousadia de um político? A reportagem especial deste domingo (4) mostra de tudo: um prefeito investigado pelo Ministério Público por construir pista para aviões em uma propriedade particular e outro que, segundo a Procuradoria-Geral de Justiça, reformou a casa de uma amiga, usando verba e funcionário da prefeitura.

Vamos mostrar mais uma denúncia com condenação na Justiça: dinheiro público para pintar uma cidade com a cor da campanha eleitoral do prefeito. Outro é acusado pela Procuradoria-Geral de comprar cabeças de gado para a própria fazenda com o dinheiro da prefeitura.

Mais ainda: o Ministério Público acusa o prefeito de uma cidade pequena - hoje, deputado federal - de comprar gasolina e diesel suficientes para dar nove voltas ao redor da Terra.

Durante um mês, em quatro estados do país, as equipes do Fantástico investigaram acusações de prefeituras que usam parte do dinheiro público para tudo, menos para o bem dos cidadãos. São casos bizarros, que poderiam ser vistos como simples folclore, se não fossem tão graves.

Uma obra está em andamento, e dois promotores de Justiça, que filmam tudo, ficam indignados. “Cidadão precisando de recurso para necessidade básica. Isso aqui é um absurdo”, comenta um deles.

O flagrante, de setembro passado, é em uma fazenda de Torixoréu, em Mato Grosso, que tem quatro mil habitantes e uma renda familiar média de R$ 513 por mês.

Na propriedade particular, observamos dois caminhões da prefeitura. No local, os funcionários do município constroem uma pista para aviões. São 1,3 mil metros, segundo o Ministério Público. É quase o mesmo comprimento da pista principal do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, um dos mais importantes do país. “A prefeitura fazendo aeroporto para um fazendeiro. Não existe esse negócio de você fazer serviço para particular”, declara o promotor.

As máquinas foram emprestadas pelo governo do estado com uma finalidade: manutenção de estradas. E o prefeito não poderia ceder o equipamento a terceiros. “Ele usou do bem público para fins particulares, o que é terminantemente vedado pela lei”, afirma o promotor de justiça Mauro Poderoso.

Nem o fazendeiro Valmir Pereira, nem o prefeito Maximo Rodrigues dos Santos, conhecido como Maximo Barriga, quiseram gravar entrevista. O prefeito disse, em nota, que "houve uma parceria". O município construiria a pista de pouso, e o fazendeiro, que também é empresário, recuperaria estradas e máquinas da prefeitura. Falamos com Maximo Barriga por telefone.

Fantástico: O senhor continua fazendo serviço na fazenda ou parou?
Maximo Barriga: Não. Naquela fazenda, parou, mas continuo fazendo em outras fazendas.

Sem saber que era gravado, o diretor de obras de Torixoréu revela.

Fantástico: É normal liberar esse tipo de obra aqui?
Diretor de obras de Torixoréu: É. O prefeito fala, e a gente vai fazendo. Tem vez que você faz coisas que você sabe que está errado, mas é mandado.

As irregularidades dos prefeitos foram analisadas pelo economista Marcos Fernandes, da Fundação Getúlio Vargas, a partir de dados da Controladoria-Geral da União. “Em média, 33% dos municípios, independentemente da região ou estado, apresentam algum tipo de irregularidade no uso das verbas”, aponta o especialista.

Para mostrar outro gasto, tão suspeito quanto folclórico, viajamos até Carmolândia, Tocantins, que tem 2,3 mil habitantes. Ano passado, João Holanda Leite, conhecido como Bogó, ficou um mês preso e, agora, aguarda o julgamento em liberdade, mas fora do cargo. Segundo a Procuradoria-Geral de Justiça, o político usou o dinheiro da prefeitura até para comprar gado para a fazenda dele.

João Holanda Leite, prefeito afastado de Carmolândia: A gente faz as coisas tentando acertar. Não é que a gente erra porque quer errar.
Fantástico: Então, foi sem querer que o senhor desviou dinheiro?
João Holanda Leite, prefeito afastado de Carmolândia: Eu não desviei dinheiro. Tenho a consciência limpa que eu não fiz isso.

“Ele desviou R$ 1,086 milhão do município que recebe apenas R$ 3 milhões por ano do Fundo de Participação dos Municípios”, aponta Clenan Renaut de Melo Pereira, procurador-geral de Justiça do Tocantins.

Em cidades pequenas como Carmolândia, o caixa da prefeitura é mantido, principalmente, com dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios, que é repassado pelo Governo Federal.

Dos 139 municípios do Tocantins, 79, mais da metade, têm prefeitos investigados ou já processados pela Justiça. E foi nesse estado que o Fantástico encontrou uma denúncia bem pitoresca, envolvendo dinheiro dos cidadãos.

No dia 15 de julho de 2009, uma quarta-feira pela manhã, o então promotor da cidade de Colméia, Airton Amílcar, estava procurando uma casa para alugar. Parou em frente a uma que estava em obras. O pedreiro, sem saber que estava conversando com um promotor, acabou contando que estava a serviço do prefeito de Itaporã, cidade que fica a cerca de 30 quilômetros de Colméia, para fazer uma reforma na casa de Alessandra Barbosa da Silva, amiga do prefeito.

A Procuradoria-Geral de Justiça diz que havia intimidade entre o prefeito e essa amiga e denunciou os dois à Justiça por uso indevido de serviço público.

Alessandra, que teria mudado de cidade, não foi localizada. O prefeito Jonas Carrilho Rosa, que administra uma cidade de 2,4 mil habitantes, disse que foi só um favor que o pedreiro fez, fora do horário de trabalho.

Jonas Carrilho Rosa, prefeito de Itaporã do Tocantins: No dia que ele estava trabalhando para mim, não era um dia que ele estava trabalhando para a prefeitura.
Fantástico: Não é constrangedor passar por uma situação dessas?
Jonas Carrilho Rosa, prefeito de Itaporã do Tocantins: Eu diria para você que é constrangedor quando se deve, quando não se deve, não é constrangedor.

As denúncias atingem também cidades maiores, como Poá, na Grande São Paulo, com 106 mil habitantes. No local, o problema não foi a reforma de uma casa só. O Ministério Público acusa Francisco Pereira de Souza, o prefeito Testinha, de usar dinheiro público para deixar boa parte da cidade com a cor da campanha eleitoral dele: laranja. São uniformes escolares, secretarias. Nem o cemitério escapou.

A cidade está sendo repintada, como, por exemplo, a entrada de um centro esportivo, mas, em alguns pontos, dá para perceber que o serviço não terminou ou simplesmente mal começou, como em um portão em que ainda predomina a cor preferida do prefeito.

A Justiça de Poá determinou a cassação de Testinha e a devolução do dinheiro gasto com a tinta. “Eles se esquecem que o bem que está ali é público”, afirma a promotora de Justiça Karina Scutti Santos.

A prefeitura de Poá disse que já recorreu e aguarda as decisões. E que os equipamentos públicos, entre eles, o cemitério, foram repintados com dinheiro do prefeito.

Outro caso, que até parece folclore, está na Bahia. Em Luís Eduardo Magalhães, 60 mil habitantes, uma matemática que não fecha foi denunciada à Justiça do estado em 2005 e aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal.

Na época, a prefeitura, que administrava o município de 23 mil habitantes, fechou contrato para pagar 15 mil litros de gasolina e 20 mil litros de óleo diesel em apenas um mês. Um gasto considerado espantoso pelo Ministério Público da Bahia que fez as contas. Com tanto combustível, dizem promotores, os carros da prefeitura conseguiriam rodar cerca de 360 mil quilômetros. Essa distância equivale a quase nove voltas ao redor do planeta ou uma ida à lua.

O prefeito, na época, era Oziel Oliveira que, hoje, é deputado federal. Ao longo de duas semanas de tentativas, ele não nos atendeu. Em nota, Oziel atribuiu as denúncias a adversários políticos. Disse que as despesas da prefeitura foram aprovadas pelo Tribunal de Contas e que as providências legais para comprovar que não houve dano ao patrimônio público já estão sendo tomadas.

A Controladoria-Geral da União diz que os mecanismos de fiscalização estão sendo reforçados. “Lugar de gestor corrupto é na cadeia”, afirma o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage.

Para o ministro-chefe da controladoria, a lentidão da Justiça corre a favor dos suspeitos. “Um bom escritório de advocacia não deixa o processo chegar ao fim em menos de 10 ou 20 anos, e os corruptos são os que podem pagar os melhores escritórios de advocacia”, declara Hage.

A procuradora Janice Ascari faz parte de um grupo do Ministério Público Federal que apura desvio de verbas federais em prefeituras. Ela diz que há muito trabalho a ser feito: “O Ministério Público já ofereceu mais de 90 denúncias, e temos mais de 200 investigações ainda em andamento. Há um descaso generalizado com a coisa pública, com o dinheiro público”.

“Esse dinheiro saiu do meu bolso, do bolso do meu filho, do vizinho e do outro. Então, esse dinheiro é nosso. Quem pegou, tem que devolver”, declara a comerciante Maria do Socorro."
 
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1678855-15605,00-MP+ACUSA+PREFEITO+DE+COMPRAR+COMBUSTIVEL+SUFICIENTE+PARA+DAR+NOVE+VOLTAS+NA.html

sexta-feira, 2 de março de 2012

30 anos sem Pedro Jorge


No dia 3 de março de 1982 o Procurador da República PEDRO JORGE DE MELO E SILVA foi assassinado em Olinda, PE, às 18h40m. Pedro Jorge foi o responsável pela investigação e oferecimento de denúncias do esquema de corrupção conhecido como "Escândalo da Mandioca".



Em homenagem ao valoroso colega PEDRO JORGE, os membros do Ministério Público Federal em todo o Brasil farão hoje (2/3) um minuto de silêncio, precisamente às 18 horas e 40 minutos.

O Escândalo aconteceu entre 1979 e 1981, no município de Floresta, em Pernambuco, a 434 quilômetros da capital. O esquema envolveu mais de uma centena de pessoas, como o ex-deputado Vital Novaes e o ex-major José Ferreira dos Anjos, o gerente e alguns servidores da agência do Banco do Brasil naquele município, funcionários de cartórios, um técnico da EMATER, agricultores, fazendeiros e políticos, entre outros que se beneficiaram do esquema fraudulento que desviou 1,5 bilhão de cruzeiros (cerca de 20 milhões de reais) dos cofres públicos.

O esquema funcionava por meio da realização de empréstimos para o plantio de mandioca. Segundo o valor dos financiamentos obtidos, junto ao Banco do Brasil, cerca de 140 mil hectares de mandioca teriam sido plantados, o que equivaleria a 80% de toda produção pernambucana na época. Os formulários de cadastros de empréstimos para produtores agrícolas eram falsificados. Assinados os pedidos de financiamento e os títulos de crédito, eram feitos os pedidos de indenização, então cobertos pelo seguro agrícola do PROGRAMA DE GARANTIA DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA – PROAGRO (Lei nº 5.969/1973), sob a alegação de que a seca destruíra os plantios, que, efetivamente, nunca foram feitos. O tenente da Polícia Militar, David Gomes Jurubeba, indignado com negativa ao seu pedido de financiamento, em carta enviada ao então presidente do Banco do Brasil, Osvaldo Collin, denunciou a “roubalheira” estabelecida em Floresta.

O procurador da República Pedro Jorge de Melo e Silva formalizou as denúncias nº 44/1981 e nº 02/1982 das fraudes, passando a ser alvo de pressões e ameaças, o que culminou com o seu assassinato em 3 de março de 1982.

Há nessa triste história um outro fato que envergonha a todos nós, do MPF.

Pedro Jorge havia sido afastado do caso um dia antes pelo então Procurador-Geral da República, Inocêncio Mártires Coêlho, sob a suspeita de falta de isenção funcional, o que veio a causar enorme inquietação aos procuradores do Ministério Público Federal. Isso porque o oficial da Polícia Militar Audas Diniz de Carvalho Barros, um dos denunciados no “Escândalo da Mandioca”, em 27 de janeiro de 1982, entrou com uma representação na Procuradoria Geral da República, sob o número PGR Nº 50.060, contra o procurador Pedro Jorge, na qual o acusava de perseguir a servidora da Procuradoria da República em Pernambuco, Maria Lúcia Cavalcanti de Carvalho, sogra do militar. O então PGR avisara a Pedro Jorge que o retiraria do caso assim que ele apresentasse sua defesa no processo disciplinar.

Hoje, isso não seria possível. Desde 1988, a Constituição Federal assegura aos membros do Ministério Público brasileiro a garantia de inamovibilidade, ou seja, o promotor de Justiça ou procurador não pode ser transferido nem retirado de nenhum caso que esteja sob sua responsabilidade.
Pedro Jorge e suas filhinhas, Marisa e Roberta
 Em 1985, a ANPR - Associação Nacional dos Procuradores da República instituiu a Fundação Pedro Jorge de Melo e Silva, voltada para fins sociais e humanitários: http://fundacaopedrojorge.org.br/


Num trabalho carinhoso e de excepcional qualidade histórica para a nossa instituição, a memória da vida de  PEDRO JORGE e a cronologia do Escândalo da Mandioca foram registradas e preservadas, com fotos e documentos da época, pela Procuradoria Regional da República da 5ª Região (Recife).


Sobre PEDRO JORGE, dados biográficos, documentos pessoais, produção intelectual, homenagens e correspondência, fotos e memória oral, acesse http://www.prr5.mpf.gov.br/prr5/index.php?opcao=4.4

Para saber tudo sobre o Escândalo da Mandioca, cronologia, histórico processual, o assassinato, matérias e charges da imprensa (como a que segue, de Millôr Fernandes) e muito mais, acesse http://www.prr5.mpf.gov.br/prr5/index.php?opcao=4.5


Veja, também, o programa Globo Repórter de 31/3/1982, dedicado a ele:
http://www.youtube.com/watch?v=qfrh9U9GRRY

Do site da PRR/5ª Região, extraio o pensamento que simboliza nosso sentimento: "Pedro Jorge tombou. Mas seus ideais democráticos e republicanos continuam a brilhar, e a servir de inspiração às novas gerações. Ajudam o Ministério Público Federal a construir uma identidade coletiva de uma instituição comprometida com a construção de um Estado Democrático de Direito, e de uma sociedade livre, justa, fraterna e solidária."